domingo, 29 de maio de 2011

Big Bang Humano


Durante a maior parte da História da humanidade o crescimento da população humana processou-se de forma lenta mas com a melhoria das condições de vida pelas descobertas cientificas que permitiram controlar epidemias e aumentar os rendimentos de produção alimentar e exploração de recursos terrestres (acima de tudo os energéticos) a população aumentou drásticamente e de forma exponencial. Mas a produção alimentar e o uso de recursos e energia não têm aumentado graças à própria capacidade industrial, mas porque a população em crescimento exponencial tem vindo a reclamar mais alimentos, materiais e energia e, até este momento, tem conseguido produzi-los. A poluição e os desperdícios têm aumentado da mesma maneira porque são originados pelas quantidades cada vez maiores de materiais movimentados e energia consumida pela economia humana em crescimento. A população e o capital são capazes de crescimento exponencial mas o mesmo não acontece com a maior parte dos recursos energéticos dos quais somos quase totalmente dependentes (combustíveis fósseis: petróleo, carvão e gás natural) e o mesmo não acontece com outros recursos terrestres como os alimentares, como a água, a madeira, solo agrícola,cimento, etc. E nós estamos conscientes da desflorestação, da escassez de água que já levou a vários conflitos terríveis (nomeadamente em Darfur, uma região anteriormente pacífica), da fome no Mundo, e da crise económica mundia que muito advém da perigosa estagnação de recursos. Quanto à questão alimentar há uma franca desigualdade no Mundo pois temos uma parte do Mundo sobrenutridada (países desenvolvidos, nomeadamente os EUA) e outra parte subnutrida (países subdesenvolvidos , nomeadamente em África), isso deve-se a muitos factores mas o principal é uso da tecnologia nos países mais ricos que permite através de técnicas e químicos agrícolas produzir mais e mais alimentos…não obstante o solo também pode-se esgotar. Exemplo disso é a floresta Amazónia cujas terras são usadas para alimentar o gado usado para produzir carne, uma vez desbravadas assim essas terras não voltam a recuperar tão cedo o que acelera ainda mais o processo de desflorestação.

                                                               Big Bang Humano
Como a população humana tem crescido de forma explosiva alguns demógrafos usam o termo: Big Bang Humano para se referirem a este aumento populacional.
Estima-se que em 8000 A.C (Antes de Cristo) a população humana era de aproximadamente 5 milhões e 50 milhões em 5000 A.C, cifrando-se em cerca de 200-300 milhões à data do nascimento de Cristo. Contudo durante a Idade Média devido à precaridade, guerras, fome e ao alastramento de doenças como a peste negra mais de metade da população europeia e asiática foi eliminada. A partir do século XVII a população aumenta novamente devido a vários factores, nomeadamente a prosperidade do advento comercial e o progresso científico o que levou à Revolução Industrial no século XIX que reuniu as condições propícias ao início da explosão demográfica, que até hoje não parou.
Para termos uma noção mais concreta deste fenómeno, em 1650 (século XVII) a população mundial andava pelos 0,5 mil milhões e crescia a cerca de 0,3 % ano, o que correspondia a um período de duplicação de quase 250 anos. Por volta de 1900 (século XX) a população tinha atingido os 1,5 mil milhões e crescia a 0,5% ao ano, com um período de duplicação de 140 anos. Por volta de 1970, a população totaliza os 3,6 milhões e a média de crescimento aumentara para 2,1 % ao ano. Não era um crescimento simplesmente exponencial, era superexponencial – a taxa de crescimento também crescia . E crescia por uma óptima razão: a taxa de mortalidade diminuía. As taxas de natalidade também caíam, mas muito mais lentamente. Portanto, a população aumentava.

Quadro 1: Acréscimos à população mundial entre 1971 e 1991

Ano População (milhões) x Taxa de crescimento (por ano) = População Acrescentada (milhões)

1971 3600                     x           2,1 %                            =          76

1991 5400                    x           1,7%                              =          92

Entre 1971e 1991, as taxas de mortalidade continuaram a descer, mas as taxas de natalidade médias caíram ligeiramente mais depressa e embora a população crescesse de 3,6 mil milhões para 5,4 mil milhões, a média de crescimento caiu de 2,1% para 1,7%. É uma alteração significativa, mas não quer dizer que o crescimento exponencial esteja em vias de se estabilizar porque a taxa de crescimento populacional não desceu com a mesma velocidade com que aumentou a base populacional. Portanto, continua a aumentar o nº de pessoas todos os anos. Os 92 milhões acrescentados em 1991 equivalem a acrescentar a esse ano as populações totais da Alemanha, Suiça e Áustria- ou cerca de 6 vezes a cidade de Nova Iorque- ou, mais precisamente, já que 90 % desse aumento se verificou no 3º Mundo, equivale a somar num ano a população total do México e das Honduras.
Mesmo com as projecções extremamente optimistas, em que se consideram mais diminuições das taxas de natalidade, teremos de contar com um enorme aumento populacional, especialmente nos países menos industrializados.
E enquanto o tempo passa a população humana cresce actualmente de 80-90 milhões de pessoas por ano, o equivalente à população do Canadá em cada 4 meses e à dos EUA em cada 2 anos e meio! A maior parte deste crescimento ocorre em países menos desenvolvidos, regiões onde muitos dos recursos se encontram em vias de esgotamento face à pressão exercida pelas populações actuais. Sendo que nesses países menos desenvolvidos o seu crescimento económico baseia-se na importação de matérias primas para países desenvolvidos, o que agrava ainda mais a situação de crescimento populacional e disponibilidade de recursos nesses países.

Quadro 2: Crescimento da população humana no século XX

População mundial (milhões)   Ano

1000                                     1804
2000                                     1927 (123 anos depois)
3000                                     1960 (33 anos depois)
4000                                     1974 (14 anos depois)
5000                                     1987 (13 anos depois)
6000                                     1999 (12 anos depois)

Interpretando o quadro anterior podemos concluir que a população humana duplicou no espaço de cerca de 40 anos de 3 mil milhões em 1960 para 6 mil milhões em 1999! E pensar que para a população humana atingisse um valor total de 100 milhões de pessoas ( o que ocorreu próximo do sec XIX) foram precisos séculos!
Hoje, muitas previsões para 2050 giram em torno de 8,4 a 9,5 bilhões de seres humanos - ou seja, 3 bilhões a mais.

Gráfico 1: evolução da população Mundial ao longo dos séculos

O crescimento da população humana é semelhante a qualquer outro organismo e está sujeito aos mesmos princípios e mecanismos reguladores por isso vejamos outro exemplo de crescimento populacional:

Em 1944 foram introduzidas pela primeira vez 29 renas na ilha de St. Mathew (Mar de Bearing), esta ilha tinha um tipo de vegetação abundante especialmente boa para a alimentação destes animais, e não tinha qualquer predador que lhes “dificultasse a vida”…

A razão é simples: quando introduzimos uma espécie num sistema que lhe é favorável, mas onde ela não evoluiu naturalmente, o sistema não tem tempo para se adaptar e raramente se atinge um equilíbrio porque essa espécie se reproduz fortemente e consome o recurso rapidamente até à exaustação transformando-se numa praga. É o que se está a passar incontestavelmente com a população humana nós somos a praga Homo Sapiens!
Crescemos de forma exponencial devido ao nosso desenvolvimento económico impulsionado pelo desenvolvimento científico e estamos prestes a esgotar muitos recursos terrestres : água, energia, solo, etc. Estes recursos dos quais dependemos não estão a acompanhar o nosso crescimento exponencial populacional, apenas parece que estão sempre lá devido às técnicas científicas de exploração de recursos…mas um dia, se nada for feito, atingirá um pico que pode levar à extinção em massa de todos os humanos após estes terem levado a biodiversidade quase toda que também dependia dos recursos terrestres para a extinção! É preciso agir e é preciso agir já!

                                                               Teoria Malthusiana
Mas esta teoria irrefutável já tinha sido discutida há cerca de 200 anos atrás por Malthus, fundador da teoria Malthusiana, naquela altura ninguém deu crédito à sua teoria e assim foi durante muito tempo, mas agora é mais que evidente que Malthus tinha razão. O prémio Nobel de Economia de 2008, Paul Krugman, demonstrou que Malthus tinha razão em sua época.
Na economia malthusiana os seres humanos são condicionados por três factores interligados: a produção de bens (essencialmente alimentos, vestuário e habitação), a taxa de natalidade e a taxa de mortalidade. Quando a produção aumenta devido a alguma inovação tecnológica, o mesmo acontece com os nascimentos. Porém, precisamente por haver mais gente, a procura de produtos cresce ao ponto de não serem suficientes para todos. Nessa altura, a qualidade de vida diminui e a percentagem de mortes aumenta. A economia malthusiana representa, aparentemente, um eterno conflito entre ritmo de crescimento dos povos e o da produção de alimentos. No entanto a mensagem de Malthus é mais subtil, pois vaticina que o desenvolvimento económico não poderia melhorar a condição humana a longo prazo enquanto a fertilidade se mantivesse naturalmente estável. No mundo pré-industrial, qualquer avanço tecnológico esporádico produzia um aumento demográfico, mas não maior riqueza ou bem-estar. A lógica malthusiana é contrária à intuição. Por exemplo, qualquer progresso em termos de higiene irá dar origem a mais nascimentos, o que fará diminuir a qualidade de vida, pois mais pessoas terão de sobreviver com os mesmos recursos mesmo que a população tenha crescido. Se, pelo contrário, a mortalidade subir devido a guerras ou pandemias, os recursos dos sobreviventes aumentam de forma significativa. Por exemplo, a Peste Negra fez com que os rendimentos dos trabalhadores ingleses, em 1450, fossem três vezes superiores aos de 1300. Ao reduzir drasticamente a população, a pandemia veio aumentar a qualidade de vida dos que permaneceram imunes.
Outro exemplo: um estudo de 1999 sobre gnus do parque Nacional do Serengueti, na Tanzânia, indica que 75 % das taxa de mortalidade desses mamíferos, observada DURANTE 40 anos, se deveu à malnutrição. Encurraladas na dinâmica da sobrevivência darwinista, as sociedades malthusianas não sofriam de miséria ou eram desditosas por serem mal governadas, os seus males decorriam apenas do aumento da população e dos recursos limitados. Concluindo, Malthus vaticinou que a produção de alimentos não seria suficiente para suportar o aumento da população o que impediria a sociedade de crescer para além do nível da subsistência.

                                         Tendência para a desigualdade
As assimetrias do nível de vida entre países ricos e pobres conduzem a uma partilha desigual dos recursos naturais e a uma produção desproporcionada de poluentes e resíduos. Os norte- americanos, por exemplo, consomem cerca de 25 % dos recursos globais e produzem 25 a 50 % do total de resíduos industriais, embora representem menos de 5 % da população mundial. Os países mais desenvolvidos perfazem cerca de 20% da população mundial mas consomem mais de metade da maioria dos recursos. Há cada vez mais gente no Mundo e cada vez mais gente a querer viver com as mesmas condições dos países desenvolvidos: 20 % da população consome mais de 50 % dos recursos terrestres e os outros 80 % da população anseiam vir a viver como nós! Efectivamente, a explosão demográfica cria um cenário preocupante.


                                                         Earth overshoot day
O dia da Superação ou Earth Overshoot Day em inglês equivale ao dia em que a população humana esgota os recursos produzidos num ano pela biosfera ou ecosfera. Quando esse dia chega significa que estamos além do que o planeta nos pode oferecer, ou seja superámos a biocapacidade da Terra.O primeiro dia da superação ocorreu a 31 de Dezembro de 1986, em 1996 no início de Novembro e em 2007 a 6 de Outubro , em 2008 esse dia foi a 23 de Setembro. Para fazer este cálculo, a Global Footprint Network compara o ritmo em que, a cada ano, a natureza produz seus recursos - alimentos, combustíveis, etc - e assimila os detritos, e o ritmo anual em que a humanidade consome esses recursos e produz detritos. Quando superamos as possibilidades terrestres, atingimos o dia da superação.
Os pesquisadores avaliam a pegada ecológica do Homo sapiens em hectares terrestres.
A OCDE dá esta definição: “A medida da superfície biologicamente produtiva necessária para suprir as necessidades de uma população humana ”. Os últimos cálculos mostram que superamos amplamente a nossa cota - em escala global. Hoje a Terra só pode oferecer 1,78 hectare global (hag) por habitante, nem um centímetro quadrado a mais!!! Mas o consumo mundial actual exige 2,23 hag produtivos per capita. E os cálculos mostram que se o conjunto da população humana adoptasse hoje o modo de vida dos europeus e dos americanos - carros, água quente à vontade, carne todos os dias, energias fósseis conforme necessário… - seria preciso ter uma superfície de quatro a cinco planetas Terra.
Certo é que as novas classes médias chinesas e indianas começaram a viver no estilo ocidental e quem poderá censurá-las?

                       Principais consequências da explosão da bomba P
A bomba P refere-se ao crescimento rápido da população e tem como consequência primordial o esgotamento da capacidade de satisfação das suas necessidades básicas, nomeadamente em termos energéticos e materiais (incluindo os alimentares), além de promover incrementos das taxas de degradação ambiental.
Se a população humana cresce de forma exponencial (1, 2, 4, 8, 16, 32…) e os recursos, de forma aritmética (1, 2, 3, 4, 5…) como defendia Malthus, inevitavelmente iríamos rumo ao esgotamento dos bens, da fome, da guerra de todos contra todos.
Parece que já somos numerosos demais numa Terra de recursos finitos e a nossa demografia não é só a causa de nossos problemas ecológicos, mas também políticos, sociais, militares que levam a tensões, guerras e todo o tipo de conflitos bem como a crises económicas.
Os números da ONU anunciam uma população de 9 bilhões de seres humanos em 2050, e prevê-se um perigoso desequilíbrio demográfico entre a África e a Europa, que envelhece - sinónimo de tensões nas fronteiras e de uma imigração de risco -, assim como “distúrbios” e “violência” nos países onde a população vai triplicar - Afeganistão, Libéria, Níger, República Democrática do Congo - ou duplicar - Etiópia, Nigéria, Iêmen.
Não sabemos exactamente qual é a capacidade de suporte máxima da Terra para sustentar a pressão demográfica humana. Contudo, as estimativas disponíveis apontam para valores compreendidos entre 5 biliões e 20 biliões de pessoas. A única certeza que temos é que a capacidade de suporte da Terra não é infinita e que é preciso travar a bomba P, ter noção dos nossos limites ecológicos e edificarmos uma sociedade sustentável , respondendo à questão: quantas pessoas podem viver em condições neste planeta?