sábado, 15 de outubro de 2011

Letargia ou Indignação?



"Não vale a pena fazer nada!"
"Vai continuar tudo na mesma!"
"Achas que vais conseguir mudar alguma coisa?"
Letargia!são os típicos comentário de toda a gente que conheço, ainda por cima jovens.
Custa-me tanto lutar contra a estupidez das pessoas...até colegas meus vêm-se queixar que têm dificuldades e depois desdenham de jovens que tentam organizar manifestações ou organizar abaixos-assinados.
Por exemplo na minha faculdade andavam a pedir assinaturas para levar ao parlamento uma nova lei: contra a precariedade. Não várias pessoas ignoraram a sua mensagem (eu assinei a petição como é óbvio numa manifestação do dia 1 de Março) mas o mais incrível é aquela letargia irritante: "isso não serve para nada!", "para quê?", "epá o que é que eu tenho a ver com isso!", "tou com pressa!". Mas os comentários mais engraçados que ouvi foram: "que parvoíce! querem fazer o quê? obrigar o patrão a pagar mais? tipo lutem pela vida...arranjem dois empregos, façam pela vida!".

Claro que quem o disse é quem, certamente, nunca teve noção real dos problemas das pessoas, provavelmente nunca trabalhou e nunca lhe faltou nada. Arranjar 2, 3 trabalhos? Claro! Para já o que não faltam aí são empregos aos pontapés e depois já num trabalho a tempo inteiro com 8 horas por dia pagam um ordenado mínimo de menos de 500 euros...dois empregos, hein? quando? só se for ao fim de semana, ou em vez de dormir irem todos trabalhar.
Não várias vezes me queixei de idiotices que oiço e presencio naquela faculdade tipo uma colega olhar para a sala sobrelotada com todos os colegas lá e exclamar: "se esta merda toda entra no mercado de trabalho eu não sei!". E há mais nomeadamente o encorajamento à competitividade extrema: "um engenheiro com 10 não vale nada e do jeito como as coisas estão já sabem só sobrevivem os mais aptos como na lei da selecção natural", disse o professor de radiação no 1º dia de aulas.
Outro exemplo: Portugal é pioneiro do mundo a desenvolver energia das marés com o programa Pelamis ao longo da costa Atlântica, comuniquei essa excelente notícia a um colega meu sabem o que ele respondeu: "F*d*sse!!! Me*d*! Quanto acabar o curso já desenvolveram tudo e não vai haver trabalho para mim!", claro que o mais importante para ele era ele ter mais trabalho e não o grau de desenvolvimento tecnológico que precisamos para salvaguardar o planeta Terra!
Se quiserem saber mais idiotices sobre a minha faculdade podem ler o post: vida-de-universitario

Ao contrário de muita gente que se queixa de finanças, eu, por outro lado, felizmente, ainda vou tendo uma vida boa, a vida que os meus pais têm as condições de me dar porque nunca trabalhei.

Para mim vivíamos todos ou quase todos  classe média, quero com isto dizer que não deveria haver pobres nem ricos, classe média...aliás por mim não haveria classes, ou a haver não haveriam pobres de tal modo que para isso muitos não poderiam viver na luxúria da riqueza obscena.
Não teria nada contra os ricos...senão existissem pobres.

Continuando, felizmente a vida sempre me deu tudo, ainda mais do que aquilo que eu merecia e pedia, de facto nunca tive realmente de me esforçar para ter nada da vida...mas não é por causa disso que deixo de me afectar por haver uma sociedade desigual, a ver bem eu até podia viver a minha vidinha boa sem preocupações nenhumas mas não consigo aceitar este sistema injusto! Como tal, embora nunca tenha sentido dificuldades, poderei vir a senti-las e não consigo fechar os os olhos a esta realidade em que os ricos ficam mais ricos e pobres mais pobres.
Revolta-me que um Estado de direito deixe os seus cidadãos viver como cães vadios na rua (sem-abrigos) e que corte nos seus direitos e queira privatizar bens naturais (como a água) para gerar receitas de modo a cobrir buracos financeiros que herdámos de maus anos de governação.
Está certo quem os elegeu fomos nós (eu não pus lá nenhum também), mesmo aqueles que não votaram são também parte do problema. Mas este problema não é nacional, é internacional e hoje, dia 15 de Outubro, vai ser o dia em que 1000 cidades de 85 países se manifestarão contra esta escravidão do capitalismo financeiro que escraviza as pessoas e destrói o meio ambiente. 
Este sistema enoja-me: saber que mais que nunca, hoje, há mais escravidão do que alguma vez houve: crianças trabalham dias inteiros na China, Vietname, Bangladesh, Indonésia, etc e o que ganham com isso? um pote de arroz para não morrerem de fome?? não serem baleadas?


Não consigo continuar a alimentar este sistema, não quero comprar ténis e roupa que foi feita por escravos modernos do século XXI, não aceito que o sistema desrespeite o meio ambiente para lucrar mais, não aceito fazer sempre reciclagem e quase não ver à venda papel reciclado, não aceito que grandes empresas mundiais destruam as florestas tropicais para fazer papel para embalar produtos...enquanto nós reciclamos! Não aceito consumir produtos que provieram de uma desflorestação atroz e desnecessária.


Eu vou lutar contra o sistema, sim! Nem que para isso vá sozinha à manifestação de hoje (porque até agora nenhum dos meus conhecidos se mostrou interessado em ir apesar de se queixarem que gostavam de ter emprego quando tirassem o curso e o seu próprio dinheiro).
Vou-me indignar hoje à tarde, o sistema mais cedo ou mais tarde vai cair, e eu vou estar lá também para o derrubar!