segunda-feira, 14 de novembro de 2011

O que resta de Portugal?

Recebi o seguinte e-mail deveras interessante:


"Um jovem diplomata português, em diálogo com um colega mais velho:
- Francamente, senhor embaixador, devo confessar que não percebo o que correu mal na nossa história.
Como é possível que nós, um povo que descende das gerações de portugueses que "deram novos mundos ao mundo", que criaram o Brasil, que viajaram pela África e pela Índia, que foram até ao Japão e a lugares bem mais longínquos, que deixaram uma língua e traços de cultura, que ainda hoje sobrevivem, e são lembrados com admiração, como é possível que hoje sejamos o mais pobre país da Europa ocidental?

O embaixador sorriu:

- Meu caro, você está muito enganado. Nós não descendemos dessa gente aventureira, que teve a audácia e a coragem de partir pelo mundo, nas caravelas, que fez uma obra notável, de rasgo e ambição.
- Não descendemos? - reagiu, perplexo, o jovem diplomata - Então de quem descendemos nós?
- Nós descendemos dos que ficaram aqui..."
Será verdade? Será que não restou nada do nosso passado de grandiosidade em Portugal? será que esse povo corajoso, aventureiro, que viu na crise medieval a solução para a glória dos tempos, esse povo que deu novos mundos ao mundo, o pioneiro da globalização desapareceu assim para todo o sempre do seu berço natal, da sua terra de nome: Portugal?
A grandiosidade de Portugal continua presente na cultura, língua e arquitectura por esse mundo fora mas será que resta alguma dessa glória cá? Afinal como nos perdemos na História que escrevemos?
Eu concordo um pouco com esse trecho acima mas ao mesmo tempo não acredito que não ficámos sem nada desse espírito de aventura e glória ancestral...eu sinto que fiquei, eu sinto vontade de percorrer o mundo, conhecer novas culturas, até gostava de praticar vela mas ainda não pratiquei essa modalidade desportiva...
O que eu acho que se passa é que acima de Portugal tem-se esquecido do seu valor e sente-se inferiorizado por nações maiores que troçam da sua pequenez e desprezam a sua história...os portugueses são um povo manso, calmo e afável...mas têm muita baixa auto-estima. Para o português o que vem de fora é sempre melhor do que tem cá dentro e a resposta desse tal colega mais velho de mais ou menos como: os bons foram embora daqu os maus ficarai, é típico do português.
Em Portugal os únicos que não apreciam o país acabam mesmo por ser os portugueses, ninguém fala tão mal de Portugal como os próprios portugueses (eu incluída), normalmente são os estrangeiros que investem mais no potencial português (especialmente os ingleses nos vinhos e no Algarve onde fundaram a sua colónia de férias)
Mas a verdade é que temos tanta coisa boa e tanto potencial!
Os turistas adoram...e eu antes de viajar não entendia o porquê, mal viajei pelo Mundo mas cresci sempre com a ideia que Portugal não prestava (muito por incutimento do meu pai, o típico português fatalista).
Mas o pouco que viajei fiquei abismada. Especialmente nas férias que fui para a Escandinávia, na Suécia e Dinamarca e fui ver a praia deles, minha nossa, a praia dos suecos eram escadas de madeira e escadas para a água do mar Báltico! Já os dinamarqueses fizeram uma praia artificial coma areia estranha, água estranha...parecia mais uma praia fluvial de uma aldeia portuguesa...claro que a Escandinávia não é destino de praia mas aquilo chocou-me particularmente pois eles chamavam literalmente praia a um lugar com escadas de madeira e escadas de piscina para entrar no mar...já as cidades eram bastante aborrecidas, sem pessoas nos cafés a rir e a conviver, sem pessoas nos restaurantes (haviam poucos também), e faltava aquela cor vibrante das cidades portuguesas, faltava aquele céu azul (até mesmo a mim que goste de chuva), faltava aquela vida, faltava aquela cor...faltavam aqueles sabores (a comida de todo o lado para onde tenho ido é muito má...).
Foi aí que eu entendi o porquê de turistas do norte da Europa virem sempre de férias para Portugal!
Mas há mais, Portugal tem a única reserva de surf da Europa e já acolhemos grandes campeonatos internacionais! Também temos a maior costa mas vendemos cotas pesqueiras ao Japão e aos espanhóis (outra vez aí está o desprezo pelo que o nosso), temos azeite de qualidade a ser produzido por espanhóis no Alentejo e ser embalado por marcas italianas que escrevem nas embalagens: "made in Italy", azeite esse produzido num interior abandonado devido ao extermínio da agricultura imposto pelos nossos amigos europeus, temos vinhos de excelente qualidade (muitos produzidos por ingleses...). O que está evidente é o desprezo que temos por nós mesmos.
Acho que Portugal devia de se abster de novo desta Europa federalista e olhar para o Mundo de novo.


Apesar de tudo, não encontro outro país onde preferisse ter nascido, simplesmente não há mais nenhum que me identifique assim tanto e todos os dias agradeço ter nascido em Portugal e ser portuguesa, embora tenha aquele desejo de sair e ver Mundo o meu desejo será sempre voltar como os bravos marinheiros: sair, ver o Mundo, viver aventuras espantosas...mas sempre, sempre com o desejo de um dia voltar à amada pátria.
Enfim, temos bom clima, boa comida, bons vinhos, boas gentes, temos história, temos cultura...o que nos falta? 
Não tenho dúvidas: AUTO-ESTIMA!


Deixo-vos com um monumento manuelino dos descobrimentos em Lisboa (a Torre de Belém) e um poema de Luís Vaz de Camões, um poeta que eternizou as glórias lusas e que (mais uma vez) não foi devidamente reconhecido em vida pelo seu país.

As armas e os barões assinalados
 que da ocidental praia Lusitana
por mares nunca dantes navegados
passaram ainda além da Taprobana,
em perigos e guerras esforçados
mais do que prometia a força humana
e entre gente remota edificaram
Novo Reino, que tantos sublimaram
E também as memórias gloriosas
daqueles Reis que foram dilatando
a Fé, o Império, as terras viciosas
de África e de Ásia andaram devastando.
e aqueles que obras valerosas
se vão da lei da morte libertando
cantando espalharei por toda a parte
se a tanto me ajudar o engenho a arte"
Luís Vaz de Camões, em Os Lusíadas (1572)