sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Os Neoliberais

O que é o Neoliberalismo?
"É tempode voltar a analisar as ideologias - que, para o bem ou para o mal, não morreram. Até 1980-90, os conservadores eram de direita (moderada), os liberais reformistas e os democratas - cristãos autênticos eram do centro, e os socialistas ou sociais-democrtas (propriamente ditos) eram de esquerda.
Com as doutrinas de Hayek e de Friedman, postas em prática pela dupla Reagan-Thatcher, bem como em consequência da globalização, do comércio livre, dos hedge funds em paraísos fiscais - e também da extinçção da URSS - o mundo virou à direita: os neoconservadores tornaram-se mais radicais, os liberais e os democratas - cristãos passaram a conservadores, e os socialistas democráticos procuraram uma «terceira via» que, pelas mãos de Blair/ Brown e de Bill Clinton se afirmou capitalista pro-rich, abandonando a sua tradição socialista e pro-poor. Tudo isto, porém ocorreu no quadro da democracia pluralista, sem nunca ultrapassar «pelo menos na Europa, EUA e Japão» - a fronteira que separa a direita democrática do fascismo (Marie Le Pen não é neoliberal).
Aconteceu, entretanto, que a ala mais à direita do Partido Republicano, dos EUA (com Bush filho, Romney, Tea Party, etc) se transformou muito rapidamente num movimento radical, quase.revolucionário, que se tem afirmado como politicamente «neoconservador» e economicamente «neoliberal». Tal transformação transmitiu-se á Europa: Merkel e Sarkozy, Berlusconi, Aznar e Rajoy, passos Coelho /Paulo Portas (com os respectivos ministros, como Victor Gaspar ,e principalmente assessores, como António Borges).

Procuremos caracterizar a corrente neoliberal, profundamente elitista, que manda na Europa actual:
a) Crença absoluta no mercado e desconfiança total em relação ao Estado (bit e-government).
b)Proteção legal aos mais ricos, sobretudo através da redução dos respectivos impostos, na convicção de que só eles investem, criam empregos e, assim, impulsionam o crescimento económico;
c)Prática constante, e progressiva, de cortes substanciais nas despesas sociais, por se entender que o Separe Sakateé uma ilusão perigosa; e que os mais pobres, tornando-se subsídio-dependentes, prejudicam o interesse nacional e não merecem protecção (ou não merecem senão uma protecção mínima).
O ódio de classe- que Marx considerava ser a ira justa dos pobres contra os ricos-mantém-se, mas de pernas para o ar: é agora a raiva profunda dos ricos contra os pobres, os inúteis, os incapazes que só sabem viver à mesa do Orçamento, à custa dos impostos dos ricos, sendo estes os únicos que dão emprego a quem verdadeiramente quer trabalhar.
Não há, por estas razões, nenhum governo neoliberalque não baixe significativamente a carga fiscal e parafiscal (T.S.U) dos empresários e que não suba, tanto quanto possível, a dos trabalhadores, apesar de nunca conseguirem diminuir o défice e a dívida. Todos os filósofos gregos- Platão, Xenofonte, Aristóteles- chamavam a isto uma forma de governo «oligárquica» cuja degeneração externa era a «plutocracia» (o governo do dinheiro).
Comparemos agora esta tão atual doutrina neoliberal com o pensamento arcaico (?) do «fascista» Oliveira Salazar, em 13 de Abril de 1929. Escreveu ele: a reforma tributária (então publicada) guia-se, entre outros, pelo princípio da quase uniformidade das taxas dos vários impostos, «com as excepções que favorecem, todos os países civilizados, os rendimentos provenientes só do trabalho do contribuinte» (A reorganização financeira, Coimbra Editora, 1930, p.102).
Problema insolúvel da ciência política: como pode um democrata neoliberal de hoje situar-se mais à direita do que um ditador «fascista» de há 80 anos?!..."
Diogo Freitas do Amaral in Visão nr 1022

"Neoliberais de merda. O Estado não deve meter-se na vida das grandes empresas, a não ser para, a mínima dificuldade, lhe enfiar pazadas de dinheiro pela goela abaixo. Depois, se o Estado precisar seja do que for, não tem direito a exigir nada. Não tem o direito de interferir na liberdade dos mercados. Se calhar, temos de ser nós a ensinar-lhes que é o trabalho que cria riqueza e não aqueles que vendem o trabalho dos outros" José Luís Peixoto in Visão nr 1023

"Esta é uma crise do capitalismo selvagem, diferente da última grande crise de 1929, que originou a II Guerra Mundial. Esta é uma crise muito mais complexa, porque começando por ser financeira - baseada nos mercados usurários e numa economia virtual - passou a ser económica, dada a recessão a que muitos Estados estão sujeitos; política na medida em que está a pôr em causa as democracias pluralistas do passado e o respeito pelos Direitos Humanos; social, dado que as conquistas sociais estão a ser implacavelmente destruídas; ambiental, visto que em virtude dos egoísmos nacionais estamos a ignorar os estragos que os homens fazem sobre a natureza, e mesmo civilizacional porque tudo se apresenta para haver um recuo imenso. Porquê? Porque a ideologia neoliberal comanda e considera os mercados - e o dinheiro, portanto - muito acima das pessoas, que não contam desde que não sejam ricos, diria mesmo, muito ricos. os mercados comandam os Estados e os políticos ou são negocistas e estão feitos com os mercados, ou então não contam. Daí o descrédito de que os políticos - e a política- são objecto, incapazes de evitar o abismo em que podemos cair"
Mário Soares in Visão nr 1022

"O que é precso é que não se toque nos fundamentosdeste novo liberalismo depurados nas melhores escolas das novas elites tecnocratas. Porque, no fim, parece rezar esta bíblia, espera-nos um novo mundo, com gentinha modesta mas honesta, trabalhadora e consciente do seu lugar, um mundo gerido pelos melhores e mais bem pagos, caapzes de dirigir através de modelos econométricos, um mundo limpo de todas porcarias criadas ao longo de décadas por um Estado social e democrático que tudo desbaratou com gente que não vale o investimento nem garante retorno. "
Pedro Camacho in "Uma fé que já não é de Direita" na Visão nr  1022

 "Uma espécie de Governo Sombra: O comentador Miguel Soisa Tavares escreveu no jornal Expresso de 22 de Setembro explicando aos portugueses que há um "quintento de terroristas económicos" (Vítor Gaspar, Carlos Moedas, António Borges, Braga de Macedo e Ferraz da Costa) que aconselha o Primeiro-Ministro e que quer «mudar o paradigma económico, mesmo que para tal tenha de destruir o país, como, aliás, estão a fazer». Sousa Tavares mostra.se preocupado com o facto deste quintento - «saído da economia de direito para a economia»-desconhecer de que é feito o tecido empresarial português e escreve que, «no fim do 'ajustamento', ficarão apenas as grandes empresas financiadas por baixos salários ou isntaladas nos antigos monopólios públicos com lucros garantidos e uma multidão de emigrantes ou desempregados. O perigo está à vista, estamos a assistir a uma revolução total no País e ao desmatelamento das pequenas e médias empresas."