sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

(In)justiça

Crónica de Rodrigo Guedes de Carvalho: Horror e Alternativa


"O horror não começou a visitar-nos este ano. Vem de longe, como infelizmente sabemos. Mas o ano que termina foi pródigo em crimes de maldade que ultrapassam qualquer razoabilidade. Nos crimes de sangue ou agressão não há, naturalmente, qualquer um que seja menos mau, mas há pormenores que nos conseguem revoltar para além do que pensaríamos suportar. Pouco antes do Natal, aquela mulher que pega fogo à casa com os dois filhos lá dentro, e que telefona à sogra a avisar que lhe matou os netos. Inacreditável. Mas ainda mais impensável a calma que demonstrou quando foi finalmente apanhada, a total falta de arrependimento, nem uma palavra de remorso. Já aqui o disse a propósito da violência doméstica, que continua a ser “resolvida” com campanhazinhas de sensibilização: a grande questão é saber o que fará a Justiça com ela, isto num caso que nem merece grande investigação, tão horrivelmente claros são os factos à nossa frente. Sim, a grande questão do crime horrendo em Portugal continua a ser a grande impunidade, castigos ou penas que não chegam aos calcanhares de uma ideia de justiça. Quer melhor (ou pior exemplo) do que o indivíduo que é mandado para casa após terem sido provadas as aberrantes agressões que fez a um... bebé? Uma criança de 2 anos, que teve de ficar internada quase quatro meses, pontapeado pelo padrasto, atirado contra a parede, queimado com cigarros nos olhos, lábios e boca?! O juiz aplica--lhe... pena suspensa. Como havemos de acreditar seja no que for? Mais a besta que atou um cão a um carro e andou a arrastá-lo pelo alcatrão, os monstros que atiram a matar sobre as mulheres que os resolvem deixar, muitas das vezes assassinadas à frente dos filhos? O que para aí vai de horror, para quem esteja minimamente atento, tem crescido a olhos vistos, e não há crise económica que o possa justificar. Sendo que, no aspecto meramente económico--financeiro, começa a ser claro que há responsáveis concretos, criminosos de colarinho branco, que deram golpadas tão grandes que conseguiram abalar toda a economia de um país, e, em consequência, deveriam ser responsabilizados pelos buracos que obrigam o Governo a fazer-nos pagar a todos. Todos estes crimes, diferentes na essência, mas todos igualmente graves, insultuosos e aberrantes, retiram a qualquer cidadão honesto qualquer esperança. A Justiça portuguesa, entretida com as suas reformas administrativas, que discute edifícios e comarcas, jurisdições e ordenados, ajudas de custo e promoções, com “revoltas” pontuais no sector, que têm tantas vezes a ver apenas com medo de perda de poder, melhor faria se desse aos cidadãos sinais de segurança, um conforto mínimo numa época em que tudo o mais parece fugir-nos debaixo dos pés. A lentidão e burocracia são exasperantes, mas não se comparam à enormidade dos resultados concretos de certas investigações ou julgamentos." 


Eu pergunto-me muitas vezes como é que é possível todos os anos entrarem em cursos de direito milhares de alunos e formarem-se outros tantos outros em direito e o país andar todo torto...mas o que é que esta gente estuda afinal?