domingo, 24 de março de 2013

Os negócios obscuros do banco Secreto do Vaticano


Para quem não sabe, o Vaticano, um país soberano dos mais ricos que há no Mundo, é um offshore, vive acima de tudo de um sistema bancário que fornece sigilo bancário a depositantes com resmas de dinheiro que querem a sua identidade sob anonimato e secreta, bem como as origens do seu dinheiro. Pode ser dinheiro de corrupção, tráfico de seres humanos, tráfico de armas e droga, da máfia...não interessa todo o dinheiro é bem vindo e armazenado secretamente no Banco do Vaticano que serve assim como uma mega lavandaria de dinheiro sujo.
Se o Vaticano desse os milhões que guarda nos seu banco poderíamos alimentar o mundo e as crianças esfomedas.
Chega de hipocrisia! Como pode haver ainda quem respeite esta instituição tão nojenta e hipócrita?
Não sei! Em todo o caso deixo-vos com excertos de uma reportagem sobre o Banco Secreto do Vaticano que saiu na revista Sábado nº 4425 em Junho de 2012 pela jornalista Isabel Lacerda.

COMO FUNCIONA O BANCO MAIS SECRETO DO MUNDO?

Tem ligações à máfia, à política e às ilhas Caimão.
Os titulares das contas são anónimos e tudo o resto é segredo.
Uma das poucas coisas que se sabe é que aceita depósitos em barras de ouro.
O papa é o único dono do mais obscuro banco do Mundo, que nunca, em 70 anos, foi auditado.
O Banco do Vaticano não entra sequer no relatório de contas anual da Santa Sé. mas todos os anos os seus lucros são entregues ao Papa.

O que se sabe:
*Tem contas encriptadas com nomes de código ou apenas números.
*Oferece taxas de juro que podem ir até aos 12%.
*Permite transferências e levantamentos avultados sem levantar questões.
*Nunca é auditado interna ou externamente.
O que não se sabe:
*Como descobrir quem são os titulares das contas mais secretas.
*Quem tem os milhões de euros que muitos religiosos levantam em dinheiro.
*Qual é o seu activo ou o seu lucro anual.
*Porque destrói todos os registos de 10 em 10 anos.


Os últimos meses, particularmente, têm revelado vários padres apanhados a usar contas no Banco da Vaticano para depositar fundos de origem alegadamente duvidosa (tráfico de droga e outras operações mafiosas) e com fins ilegais (subornos, fuga fiscal, lavagem de dinheiro).Muitos tornaram-se conhecidos com a recente divulgação de documentos secretos e correspondência privada para Bento XVI - alguns começaram a aparecer na imprensa italiana em Janeiro, outros forma publicados no livro Sua Santità, Le carte Segrete di Benedetto XVII (Sua Santidade, as cartas secretas de Bento XVI), que saiu no mês passado e rapidamente se tornou um sucesso de vendas. Na sequência destas fugas de informação, no dia 23 de Maio a polícia encontrou centenas de documentos privados de bento XVI em casa do seu mordomo. Paolo Gabriele está detido desde então.
[..]É claro para os especialistas em assuntos religiosos que a falta de transparência do banco só permanece porque a Cúria (ou alguém lá bem colocado) quer.  Em vários processos que chegaram a tribunal, os acusados (mafiosos, traficantes, políticos, empresários) que usaram contas no Banco do Vaticano para lavar fundos provenientes ou destinados a actividades ilegais revelaram o que ganha a Igreja em ser conivente com estes crimes: muito dinheiro. Os religiosos envolvidos nos esquemas ficam com parte do montante branqueado, para si ou para as suas instituições.
"Não nos toca a nós investigar a origem do dinheiro", afirmou em 2005 um bispo mexicano a propósito de um escândalo que ficou conhecido como "narcoesmolas". "Não é por a origem do dinheiro ser má que o devemos queimar. Há que o transformar em dinheiro bom (...). Já conheci casos em que se purificou", declarou Ramón Godínez.
O mais recente escândalo envolve o chefe da Cosa Nostra. Em Maio, procuradores italianos da brigada antimáfia pediram ao Vaticano que revelasse detalhes da conta do padre Ninni Treppiedi, pároco de 36 anos que liderava a paróquia mais rica da Sicília. Além de várias transacções imobiliárias suspeitas, entre 2007 e 2009 a conta de D.Ninni movimentou quase 1 milhão de euros, que as autoridades acreditam corresponder ao branqueamento de dinheiro de Matteo Massina Denaro. O mafioso, com paradeiro desconhecido desde 1993, é um dos 10 criminosos mais procurados pelo FBI. As questões da polícia italiana e dos indícios apresentados) foram suficientes para que a Santa Sé suspendesse o padre e o bispo de quem ele dependia, mas não para que entregasse os registos bancários à Justiça.
O Banco do Vaticano é dos mais secretos e obscuros do Mundo. Como pertence a uma cidade-estado independente, não pode ser alvo de auditorias externas. E também não é auditado internamente. Os seus funcionários ou dirigentes não podem ser detidos nem sequer interrogados fora da Santa Sé. Os seus responsáveis já afirmaram em mais de uma ocasião que, de 10 em 10 anos, destroem todos os registos do banco. E nunca publicam os resultados anuais da instituição. Tudo o que se passa dentro do banco é oculto. Calcular, por exemplo, quanto será o seu activo é um mero exercício de adivinhação, mas alguns banqueiros internacionais fazem uma estimativa: 5 mil milhões de euros.
Quando entidades internacionais (normalmente italianas, as mais atentas às pouco claras transacções do Banco do Vaticano) desconfiam de que uma operação viola as normas antibranqueamnto de capitais, só podem fazer uma coisa: enviar uma carta rogatória a pedir explicações sobre a origem, o destino e o titular do dinheiro transaccionado. esses pedidos ficam invariavelmente sem resposta.
 O banco do Papa funciona como um autêntico offshore no coração de Itália - e da Europa. 
[..]
Os juros concedidos são altíssimos, entre os 4% e os 12% líquidos, porque o banco não paga impostos; e há total discrição nas operações e até em relação a quem as faz. Muitas contas são absolutamente confidenciais, mesmo dentro da instituição: nos documentos internos têm apenas um número e nenhum nome associado. Nem o presidente consegue saber quem está por detrás delas. recentemente, o líder do banco, o italiano Gotti Tedeschi, amigo pessoal do papa, exigiu saber os nomes de todos os depositantes misteriosos. Com isso, abriu uma guerra da instituição e acabou demitido no fim de Maio, depois de apenas dois anos e meio em funções. Nos últimos meses, começou a recear ser assassinado e contratou segurança pessoal.
No livro Vaticano S.A, editado em Portugal pela Presença, Gianluigi Nuzzi explica que as contas encriptadas começaram em 1987 com a 001-3-14774-C, aberta com 494.4000.00 liras (cerca de 500 euros nos dias de hoje) depositadas em dinheiro a uma taxa de juro de 9% ao ano. A operação foi feita pelo prelado do Instituto para as Obras da Religião, monsenhor Donato de Bonis, e a conta estava em nome da "Fondazione Cardinale Francis Spellman" - uma fundação que simplesmente não existia. duas pessoas estavam autorizadas a movimentar o dinheiro: uma era de Bonis, a outra Giulio Andreotti, primeiro-ministro italiano. Cinco anos depois, a conta da fundação imaginária continha 26 biliões de liras (mais de 26 milhões de euros), carregadas para o banco pelo próprio prelado em malas cheias de notas. De uma só vez, chegou a ser depositado, em dinheiro vivo, o que hoje corresponde a mais de 500 mil euros [..] Durante a sua prelatura, De Bonis chegou mesmo a transferir o correspondente a milhares de euros de uma conta com o dinheiro que os fiéis doam para a celebração das missas santíssimas, para uma outra em nome "IOR Beneficenza", que o monsenhor movimentava, fazendo grandes levantamentos em dinheiro para uso próprio. Chegando a operar sobre 17 contas, De Bonis criou o verdadeiro "paraíso fiscal" em que o banco se transformou até hoje, explica Gianluiggi Nuzzi, e onde "as somas entregues para beneficência por católicos ricos são, por vezes, desviadas para contas pessoais."
Nem sequer é certo que estas contas clandestinas entrem no balanço que todos os anos é feito, em Março, quando os lucros do banco são comunicados ao Papa, para que deles disponha como entender. O valor é um segredo guardado por um grupo restrito de pessoas dentro da Santa Sé e nunca foi oficialmente revelado. Mas havia um número impressionante no arquivo monsenhor Renato Dardozzi, uma das figuras mais importantes da gestão financeira da Igreja até ao fim dos anos 90, ao qual Nuzzi teve acesso. numa carta para João Paulo II, o então presidente do banco, Angelo Caloia, informava-o de quanto colocava à sua disposição nesse ano de 1994: 72,5 biliões de liras, cerca de 72 milhões de euros a preços de hoje.
Encostada ao palácio apostólico, com vista para a janela do quarto do Papa, a torre Nicolau V, que na Idade Média serviu de calabouços e hoje é sede do banco, tem paredes que chegam aos nove metros de espessura e uma entrada sem qualquer identificação. Lá dentro, é necessário passar por um detector de metais e  alguns degraus antes de chegar a um balcão semicircular, atrás do qual se sentam alguns dos cerca de 130 funcionários que tratam das mais de 40 mil contas abertas no banco.
Todos os depósitos são feitos por transferência, em dinheiro ou barras de ouro. Ao contrário do que normalmente acontece nos bancos, o do Vaticano não se preocupa com as disposições internacionais antibranqueamento de capitais que recomendam a investigação de qualquer transacção superior a 15 mil euros.

Como só tem um balcão, para fazer circular os seus fundos e conseguir estar presente em quase todo o mundo o banco acaba por abrir contas noutras instituições financeiras. É a partir dessas contas que pode realizar várias operações, já com cheques e cartões de débito. E sempre com o mesmo titular: o próprio Instituto para as Obras da Religião. Todas as transacções são, por isso, feitas em nome da Santa Sé, independentemente de quem seja o verdadeiro dono do dinheiro. Quando as polícias estrangeiras procuram saber quem são os titulares das contas, o Vaticano não responde. É por isso que a cidade-Estado não consta de nenhuma lista de países fiáveis no que toca contra o branqueamento de capitais. E pela primeira vez, em Março deste ano, os Estados Unidos classificaram-na como "potencialmente vulnerável" à lavagem de dinheiro, no relatório anual de Estratégia de Controlo Internacional de Narcóticos.
Com o objectivo de limpar a imagem do seu banco (o Papa é o único dono da instituição), em Dezembro de 2010 Bento XVI emitiu uma norma para a prevenção e combate às actividades financeiras ilegais e criou a Autoridade de Informação Financeira (AIF) da Santa Sé, uma espécie de banco central, cujo papel é supervisionar as actividades do Instituto para as Obras da Religião e garantir a sua transparência. A nova lei entrou em vigor em Abril de 2011, mas em Janeiro deste ano uma outra norma, impulsionada pelo secretário de Estado Tarcisio Bertone, retirou os poderes de inspecção ao presidente da AIF, o cardeal Attilio Nicora, e atribuiu-os a si próprio.
Essa decisão, tal como os últimos escândalos, deverá ser fatal para o grande objectivo pessoal do Papa: colocar o Vaticano na lista de países que o Conselho da Europa considera de confiança a nível financeiro.

O facto de, em Março, um dos maiores bancos de investimento norte-americano ter simplesmente encerrado a conta que o Vaticano tinha aberto no seu balcão de Milão não deverá ajudar. O JP Morgan considerou sistematicamente insuficientes as explicações dadas sobre as elevadas e rapidíssimas transferências de dinheiro. No fim de cada dia útil, a conta da santa Sé deveria ser esvaziada e o montante total transferido para a Alemanha. o que acontecia aí não se sabe. Mas sabe-se que, no ano e meio em que esteve operacional, passaram pela conta número 1365 de Milão 1,5 mil milhões de euros. Mais difícil ainda de explicar é a ligação do Vaticano às Ilhas Caimão, na estrutura da igreja Católica, as ilhas sempre estiveram integradas na diocese de Kingston, a capital da vizinha Jamaica. Mas no ano 2000 isso mudou. O Vaticano decidiu isolar este reconhecido paraíso fiscal e decretá-o missão sui iuris, ou seja, independente. As ilhas ficaram sob controlo directo da Santa Sé, respondendo exclusivamente a um cardeal: Adam Joseph Maida, um dos membros da Comissão Supervisão do banco do Vaticano.