quinta-feira, 2 de novembro de 2017

ser adulto é adultério da alma

Ao pé da empresa do meu estágio há um centro funerário....ao voltar atrasada e desmotivada do almoço havia um morto a ser empurrado num caixão para a camioneta funerária e muitas pessoas à volta...não pude deixar de sentir uma leve inveja do morto por já ter concluído este jogo chamado vida que todos perdemos e desperdiçamos a trabalhar em cenas vazias de significado só para receber meia dúzia de tostões (que um estagiário nem recebe obviamente) para podermos pagar contas e impostos para a chulice de uma sociedade e Estado gatuno e ter um tecto para dormir quando voltamos cansados de um dia de labuta merdoso em que é suposto fazermos dinheiro para os outros e receber migalhas do bolo, ser produtivo na sociedade, dizem, agora sim és adulto e tens a tua independência quando no facto mesmo que não vivamos com os nossos queridos pais que nos infantilizam até sairmos do tecto podre deles, seremos sempre escravos de um sistema. A minha convicção é de que somos roubados todos os dias, roubados no nosso tempo energia e sonhos, partículas imateriais que definem a vida em si mesma e como se não bastasse somos roubados em cerca de 6meses legalmente do que ganhamos para alimentar um Estado opressivo e de clientelas que se diz socialista....dizem que isto é contribuir para a sociedade e ter liberdade...eu discordo. A quase completar 28anos de solidão cósmica rodeada de seres que não me entendem e censuram ao mais leve despertar de consciências que a minha visão cândida das coisas revela, eu sei bem, que tenho que apenas fingir ser só mais um deles mas não sou nem nunca serei. Venderam-nos toda a infância e adolescência a ideia que ser adulto é fantástico e por fim seremos livres, mas eu não acreditei...esta fase é a fase de simplesmente pagar coisas com o tempo da nossa vida que alguem decide taxar e cobrar, pagar reformas de outros que já pagaram dos outros e preparamos a nossa velhice à confiança da segurança social e de poupanças em bancos que são peritos em fazê-las desaparecer, só para em teoria podermos morrer na dignidade de um lar a cagar fraldas outra vez, se chegarmos lá, coisa que não quero, pelo meio vendem-nos a ideia que temos de casar e procriar mesmo que nunca encontremos o verdadeiro amor das nossas vidas, apenas alguém à mão, alguém a jeito porque é mais confortável e a miséria gosta de companhia, e como se não bastasse envelhecemos, ficamos enrugados, cansados, doentes e fisicamente nojentos e horríveis. Tempo é mesmo dinheiro na medida em que é com o nosso tempo que nos dão dinheiro e nos tiram. A vida passa-vos ao lado e um dia já acabou, claro que de vez em quando os escravos vão de férias para fugir à realidade da sua servidão e acreditarem que são livres. Ser adulto é uma merda e é para mim ter consciência disso mas fingir que não. Tenho saudades de ser criança, valer por o que era e não pelo que faço ou tenho ou deixo de ter, de ser amada em vez de criticada especialmente por aquelas pessoas em que era suposto ter apoio, compreensão e confiança e não conhecer o mundo como ele é ou o transformaram impondo-nos a ideia que temos de viver assim e copiar a vida de toda a gente sem o menor pensamento e sentimento original....ser adulto é só a pior coisa que nos pode acontecer, o fim da nossa infância é só a pior tragédia das nossas vidas, depois é só somar....já me devia ter habituado dizem, mas não, porque eu lembro-me com nostalgia daquela alegria de viver e daquela pureza de ser que já tive e nunca mais vai regressar. Ser adulto é o princípio do fim de tudo e a minha única consolação é ser das poucas pessoas reais que existem, que ainda sente e pensa com alma e não se envergonha disso. Serei sempre demasiado para as pessoas deste mundo e essa sim, para mim, é a maior vitória e consolação de todas.

quarta-feira, 1 de novembro de 2017

Apagar

Ao longo da minha vida concluí que a maior parte dos meus problemas são causados por outras pessoas, mas o problema real não são elas, mas sim a minha reacção e sentimentos para com elas, e a melhor forma de lidar com esse género de pessoas é evitá-las, ignorá-las, desprezá-las e esquece-las se possível. Eu faço isto a toda a gente, porque assim a vida me obrigou, de vez em quando faço uma limpeza e jogo fora da minha vida tudo o que seja lixo humano, desde familiares, a supostos amigos ou conhecidos, quem quer que seja. As pessoas dizem que isto é ser-se vingativa e ressentida só porque eu não quero mais lidar com gente que não me respeita, que me desvaloriza, que me arrelia e tenta destruir a minha paz interior e saúde mental, eu chamo a isto respeito próprio suficiente para não deixar pessoas venenosas mandarem-me abaixo a toda a hora. As pessoas sobrevalorizam a sua existência na minha vida, o que é errado porque de facto eu não preciso delas e nem gosto delas pelas reacções psicopáticas distorcidas que dissimulam e dizem ser "amor", mas eu não acho que alguém que te ame te queira destruir. Eu lidei com os maiores falhanços da minha vida, as maiores desilusões, e as partes mais tristes de todas sozinha a enxugar as próprias lâminas enquanto a minha consciência me dizia "não ligues, vais ficar bem! deixa-te de importar com essa gente que só te querem destruir, tu tens valor!", vez após vez após vez, até que um dia exorcizei os meus demónios que me perseguiam sob a forma humana e os apaguei da minha vida e tudo ficou melhor.